Tuesday, October 28, 2014

Fim de tarde

Enfiou a mão na bolsa, sacudiu os dedos frenéticos. Percorreu pelos bolsinhos internos aos externos até finalmente sentir o metal frio e bem cortado. A chave. Encaixou rapidamente, girou, abriu a porta devagar. A bolsa deslizou pelo seu braço em encontro ao chão. Cheiro de café frio, escorrido na louça amanhecida. Se jogou na cama e ouviu o silêncio que zumbia pelas paredes brancas, vazias.

Desejou o dia todo ser acolhida por aquela cama fria e amarrotada. Estava do jeito que a deixou às 6 da manhã, misturada com as peças de roupa rejeitadas na pressa. Deitada de bruços, inquieta apanhou o celular. Ainda era cedo, dava para fazer aquele monte de coisa que a gente inventa de acumular... Mas não conseguia nem organizar sua mente, muito menos o tempo restante de um dia agitado.

O apartamento, um ovo. Mas estava tão vazio, tão imenso. Nada na geladeira, nada nos armários, nada no Facebook, Instagram e Whats App... Nenhuma mensagem do menino - um caso, um rolo, um nada, um tudo, um amor pra vida ou pra nunca mais... É... Tem vezes que a solidão te pega de jeito, senta do teu lado, te abraça e atordoa um bocado.

Ela queria alguém para conversar sobre seu dia, alguém para conversar sobre nada importante, alguém para fazer nada junto e fazer tudo junto também... Ah, meu bem... Alguém que não deixasse que sua cama de solteiro fosse tão grande e deploravelmente confortável, sabe? Não queria alguém pra ela, mas alguém pra fazer parte dela sem complicar demais ou de menos, sem pressa pra viver, sem regras pra dizer, tocar, rir e dançar... Sem hora pra dormir junto ou voltar pra casa rindo a toa...
 



No comments:

Post a Comment